APOIE ESTE MOVIMENTO.

Do Orkut para as ruas: Punks, anarquistas e até pessoas de outros Estados vão a manifestações

Post  por Josimar Nunes


Reportagem: Vilmara Fernandes, 
vfernandes@redegazeta.com.br

Foto: Fábio Vicentini
Foi a partir da insatisfação de algumas jogadoras de basquete que a luta contra o aumento da passagem de ônibus acabou ganhando corpo. Com a ajuda das redes sociais elas reuniram os insatisfeitos, se aliaram a um grupo de universitários e deram um novo perfil ao movimento, que este ano foi para as ruas sem lideranças. Com suas manifestações os estudantes atraíram tanto a irritação de parte da população, impedida de circular, quanto o apoio popular, principalmente após a ação da polícia na desobstrução das ruas.Boa parte dos jovens que estão nas ruas protestando foi atraída por uma comunidade no Orkut, criada por quatro amigas: Daiane Reis, 23, formada em Direito; sua irmã Irlane, 30, também aluna de Direito - ambas trabalham em um escritório de advocacia -; Ester Vaz, 18, recém-aprovada em Educação Física; e sua irmã Aline, 16, secundarista. Nenhuma delas tinha experiência na organização de movimentos sociais, e era a primeira vez que criavam uma comunidade virtual. 


Proposta


A proposta começou a ser pensada no segundo semestre do ano passado, após a greve dos rodoviários e a sinalização de um novo reajuste. Foi quando o assunto começou a preocupar um grupo de jogadoras de basquete, do qual as amigas fazem parte. Quando o aumento se configurou, elas decidiram arregaçar as mangas. Repetiram o que aconteceu em países do Norte da África, como o Egito, onde a luta contra as ditaduras também foi convocada pela internet. 


Para surpresa das jovens, em menos de três dias a comunidade criada em 3 de janeiro conquistou mais de 500 seguidores. Hoje já são quase 1.700. A maioria é de estudantes, mas há professores, trabalhadores e profissionais insatisfeitos com o acréscimo no orçamento familiar. 


Ao perceberem a força do movimento na internet, um grupo de alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) - que já tinham feito um pequeno protesto no final de dezembro - as convidou a unirem forças.


Sem líderes


Na primeira reunião veio o pedido: seriam aliados, mas não haveria lideranças. "Não queríamos seguir quem não nos representava", pondera Irlane. Esse era o perfil de sua comunidade: todos poderiam participar. "Chegamos até a ser chamadas de os sem-representatividade", brinca Daiane. Moradoras de Vitória, as amigas são de origem humilde: o pai de Ester e Aline é um guarda-vidas, já Daiane e Irlane são filhas de um segurança e de uma cabeleireira. Na casa da família - que têm outra universitária, Jaiânia, 19 -, todos dividem um computador. Foi nele que as quatro deram início ao protesto virtual.


Tudo foi acompanhado de perto pelos pais de Daiane e Irlane, Josias e Maria Lúcia Reis. Além do apoio, eles participaram de alguns atos. "Num deles a pressão do Batalhão de Missões Especiais (BME) era tanta que minha mãe começou a rezar", lembra Irlane. Mas o casal se sente orgulhoso. "Gosto de saber que elas estão lutando por todos", diz a mãe, que assim como os demais familiares costuma usar transporte público.


Experientes

A partir de sua iniciativa, as amigas passaram, então, a dividir o cenário de manifestações com universitários com larga experiência no movimento estudantil, alguns deles também filiados a partidos políticos. Entre eles estão Tadeu Guerzet (PSol), 26, aluno de Economia da Ufes e ex-candidato a deputado federal; Pedro Teixeira (PT), 20, estudante de Direito; e Gustavo de Biase (PSol), 23, aluno do curso de Serviço Social, que em 2005 participou de manifestação semelhante quando era aluno do então Cefetes - hoje Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).No mesmo guarda-chuva do movimento estão abrigados ainda independentes, punks, anarquistas, secundaristas, alunos de escolas públicas e até de particulares. Todos garantem que, apesar das ideologias diferentes, focam em objetivos comuns: redução da passagem e melhoria do transporte público. Mas há rachas. Um deles no Ifes. A demora para entrarem no movimento foi creditada ao presidente do grêmio, Fábio Barros, 29, da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, mas que também participou da Ueses, Umes, Ubes. Ele nega, mas Miguel Macedo, 18, acabou sendo eleito como líder pelos alunos da unidade. Outras divergências envolvem os filiados ao PT, mesmo partido de Givaldo Vieira, vice-governador, que encabeça as negociações com os estudantes.

Ação

Participantes do movimento são unânimes em dizer que não erraram a mão ao fechar as principais avenidas de Vitória, impedindo o trânsito de milhares de pessoas. "Durante meses tentamos negociar. Só quando passamos a incomodar é que o governo nos deu atenção", diz Josimar Pereira, 19, aluno de Geografia e do grupo dos independentes.O movimento, mantido com perfis ainda no Facebook e Twitter, começou a perder força em abril e maio, com o recomeço das aulas. Foi quando surgiu uma proposta na comunidade de fazer um protesto que parasse Vitória por um dia. A sugestão foi aceita; e o ato, convocado na internet e com panfletagens.O curioso é que para alguns esse poderia ser o ponto final de um ciclo de protestos, diante da pequena participação nos últimos atos. Uma prova é que o início da manifestação do dia 2 de junho contava com menos de 40 estudantes. Muitos achavam que seriam retirados pelos agentes de trânsito. Mas o que se viu foi bem diferente. "A falta de diálogo e a ação do BME encorparam o movimento, que ganhou apoio popular", avalia Guerzet.

Ajuda

Hoje já contam com apoio de universitários até de outros Estados. Na última quarta, seis alunos da Federal Fluminense, filiados ao PSol, vieram ajudar nas manifestações. "Nosso trabalho é fortalecer movimentos sociais", disse Érica Del Judice, 24. Para as amigas que deram início ao movimento na internet já há conquistas. "Amadurecemos e aprendemos muito nesses seis meses", diz Daiane. "E ajudamos a levar para as ruas a discussão sobre o transporte público", acrescenta Irlane. Mas os destinos do movimento nenhum dos envolvidos consegue prever. "Vamos continuar lutando", assinala Walmir Celestino,17, secundarista de escola pública e do grupo dos independentes.

O sindicalista que quer ser o guru dos estudantes

Em meio aos estudantes um senhor de 61 anos se destaca com sua boina, terno e cabelos brancos. É Luiz Carlos Rangel, que com suas muitas histórias tenta encantar e ser o guru dos jovens. E explica: "Dou a eles o mesmo
foto: Carlos Alberto Silva
Luiz Carlos Rangel, sindicalista da Força Sindical que está participando do movimento estudantil que  protesta contra o valor da passagem de ônibus pelas ruas de Vitória - Editoria: Cidades - Foto: Carlos Alberto Silva
Luiz Carlos Rangel, sindicalista da Força Sindical
tratamento que recebi no passado, de pessoas como Paulo Hartung, Anselmo Tozi e outros que me iniciaram no movimento estudantil".Sua ajuda vem em forma de orientação: "Ensino como agendar uma reunião, como se expressar, como encaminhar uma pauta, o que reivindicar e como conquistar resultados". Lança mão de sua experiência. Rangel, que é metalúrgico da Samarco, está há 38 anos à disposição do movimento sindical. 

Atuação

Atualmente ele é membro da executiva nacional da Força Sindical, ala do PT que já foi acusada de promover um sindicalismo de resultados. Participa também como membro do Conselho Tarifário (Cotar) e garante que votou com os estudantes contra o reajuste da passagem. Nas manifestações, comparece com uma pasta com fotos de seu corpo nu, com os registros das balas de borracha que o atingiram durante a manifestação no último dia 2 de junho. Na ocasião, ele entrou na frente do Batalhão de Missões Especiais (BME), "para repetir ato semelhante ao ocorrido na Praça Celestial, na China".Contra Rangel pesam acusações de ter desviado recursos do Sindicato dos Metalúrgicos e de ter ferido a tiros um adversário do movimento sindical, ambas entre os anos 80 e 90. Ele garante que são acusações de sindicalistas da oposição. "Não existe nada que desabone minha história."


"O fechamento das ruas não foi nada perto do benefício que estamos reivindicando: um transporte de qualidade"Gustavo de Biase. Estudante, filiado ao PSol

"Quem tira o direito de ir e vir da população é o tráfico, a bandidagem, a violência. Não são os estudantes"Pedro Teixeira. filiado ao PT

"O que nos une é o desejo de mudar. Parece poético, mas temos necessidade de ver uma situação muito ruim no transporte público mudar"Kauê Scarini, movimento estudantil Contraponto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...