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Esclarecimento: O que de fato ocorreu no Centro de Convenções de Vitória no ultimo dia 15 de junho de 2011

Por Josimar Nunes

Entrevista da Comissão de Comunicação ao  Jornal Online Século Diário


Foto capa: Jose Rabelo

Comissão de Comunicação do MCA

As noites de sexta-feira costumam ser agitadas na Ufes. No caminho para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) cinco ou seis tribos diferentes, agrupadas em tendas, fazem a passagem final de som das festas que devem ferver em alguns minutos. Há música para todos os gostos e ouvidos: do sertanejo ao rock; do forró ao dancing. Já passam das oito da noite, mas a luz do DCE continua acesa e o clima por lá não tem nada de festeiro. Pelos corredores, estudantes dão as últimas pinceladas nas faixas que serão exibidas neste sábado (18) pelas ruas do Jardim da Penha, em Vitória. A Marcha da Liberdade deve reunir dezenas de entidades sociais capixabas que pedem um basta à violência, ao preconceito, ao conservadorismo e à intolerância. Protagonista das últimas manifestações que ganharam repercussão na mídia local e nacional, o Movimento dos Estudantes Contra o Aumento da Tarifa, como não podia ser diferente, deve ser a “atração” da marcha.
Mesmo com o som ao longe chamando para a festa, em uma ampla sala do DCE cerca de 30 ou 40 estudantes se mantêm reunidos em assembleia. Eles precisam eleger a comissão que irá representar o movimento na reunião da próxima segunda-feira (20) com o secretário de Assuntos Estratégicos André Garcia e equipe. Os estudantes esclarecem que aceitar conversar com o secretário não é um sinal de recuo do movimento. Eles ressaltam que a conversa com o governador Renato Casagrande, que foi um ponto de impasse até aqui, acontecerá em um segundo momento. “Só aceitamos conversar com o secretário André Garcia porque eles asseguraram que esta primeira reunião funcionará como uma prévia. O compromisso firmado é de que discutiremos a nossa pauta com o governador na sequencia. Não abrimos mão de conversar com o governador”, enfatizou José Anézio Fernandes.
Zé Anézio, como é conhecido entre os colegas, integra a Comissão de Comunicação do movimento. É o estudante de 23 anos que costuma fazer o papel de “animador” nos protestos. Anézio, apesar na liderança nata, não se considera mais importante do que ninguém no grupo. Ele explica que o movimento não tem um núcleo de comando e nem tampouco está à mercê de interesses político-partidários. “Nosso movimento é independente e a organização de poder é horizontalizada. Tomamos decisões a partir do debate de ideias e em assembleias, por meio de votação”, esclarece o futuro psicólogo.
Por volta das 9 horas da noite desta sexta, depois de mais de três horas consecutivas de assembleia para eleger os nomes dos dez representantes do movimento que participam da reunião da próxima segunda, a Comissão de Comunicação aceitou conversar com a reportagem de Século Diário. A decisão, é claro, foi tomada após o assunto ser discutido em assembleia.
Além da Comissão de Comunicação, que faz a interlocução com a imprensa, outras quatro comissões compõem o organograma (horizontal) do movimento. A Comissão de Mobilização tem a função óbvia de mobilizar; a de Segurança fica encarregada de garantir a segurança dos manifestantes, traçar os itinerários das passeatas e também as rotas alternativas para situações de emergência; a de Estrutura promove a articulação com outras organizações da sociedade civil, com o intuito de captar recursos para as ações e também trazer apoio ao movimento; já a de Mística abriga aqueles que têm veia artística, são eles que estão encarregados de produzir as faixas e cartazes e criar os gritos de guerra que animam os manifestantes nos protestos. Cada uma das comissões tem dois membros nos Grupos de Trabalho, que são formados de acordo com as necessidades do movimento.
Da Comissão de Comunicação, fora Anézio, a professora do ensino secundário Cláudia Dias também foi eleita para integrar a comissão que vai ao palácio Anchieta na próxima segunda. Cláudia tem o dobro de idade da maioria dos estudantes, mas parece estar muita à vontade no meio dos jovens. “Sempre fui ligada aos movimentos sindicais e partidários. Da década de 1990 para cá, participei de quase todas as manifestações de rua que tiveram em Vitória. Depois do protesto do último dia 2, quando houve o confronto com a polícia, decidi aderir ao movimento também em apoio ao meu filho, que é estudante de psicologia aqui da Ufes”. A professora diz que atualmente não é filiada a nenhum partido político. “Até 2003 era do PT. Não este PT que está ai, mas aquele PT de raiz. Minha musa inspiradora na época era a Heloísa Helena”, conta com orgulho.
“Sabe que você até se parece com ela”, brinca a paraense Karen Oliveira, 19 anos, que ainda guarda o sotaque de Belém. Há dois anos morando no Espírito Santo, a estudante de serviço social conta que esse é o primeiro protesto de que participa.
Karen diz que esteve na reunião com o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), desembargador Pedro Valls Feu Rosa, na última segunda-feira (13), para fechar um acordo entre o TRE e o movimento. “O desembargador disse que não queria acabar com o ato, até porque julgava a manifestação legítima. Mas afirmou que estava preocupado com a nossa segurança”. Ela contou que o desembargador fez um alerta aos estudantes sobre presença da Guarda Nacional, que cuidaria da segurança do vice-presidente Michel Temer. “O desembargador falou que poderia segurar a Polícia Militar, mas não a Guarda Nacional. Ele também temia que a imagem do Espírito Santo saísse manchada, caso ocorresse um incidente”, relata Karen.
Na reunião convocada pelo próprio presidente do TRE também estavam, além dos estudantes, o ex-presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Bruno Alves de Souza Toledo, a secretária do desembargador, Clenir Avanza e o presidente do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (Criad), André Moreira, que fez uma espécie de mediação entre o TRE e o movimento.
“No momento em que a comissão estava reunida com o Pedro Valls, outro grupo estava em assembleia aqui na Ufes. A comissão trouxe a proposta e nós debatemos em assembleia. O advogado André Moreira acompanhou o grupo para levar a devolutiva ao desembargador”, recorda Anézio.
Na proposta Pedro Valls prometeu aos estudantes que eles poderiam entregar a pauta de reivindicação do movimento a qualquer autoridade presente no Fórum Nacional da Reforma Eleitoral, evento que seria realizado nos dias 15, 16 e 17 deste mês no Centro de Convenções de Vitória. “Ele garantiu, inclusive, que poderíamos entregar o documento ao vice-presidente Michel Temer, mas nós estávamos interessados mesmo em entregá-lo para o governador Casagrande”, conta Karen.
No acordo, ficou combinado que uma comissão formada por 10 estudantes teria acesso ao fórum para entregar o documento. “Ele disse que o Bruno nos receberia e nos levaria até o desembargador, enquanto os estudantes ficariam nos aguardando do lado de fora do Centro de Convenções”, explica Karen.
Walmir de Andrade é estudante do ensino médio e com apenas 17 anos é o mais jovem membro da Comissão de Comunicação. Dono de um olhar penetrante e atento, o estudante, que veste a camisa 7 do Barça, a do craque David Villa, talvez não seja tão bom de bola, mas exibe talento de sobra quando o assunto é consciência social.
Filiado ao Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), ele diz que trabalha na mobilização das 313 famílias expulsas de Barro do Riacho, no último dia 18 de maio, de maneira violenta pela Polícia Militar. “Estou ajudando o movimento desde o início da ocupação”. Ele confessa que a sua mãe o apóia na militância social, mas teme a violência policial. "Ele fica preocupada comigo. Quando ela via as cenas da polícia batendo nos estudantes no dia 2 ela ficou apavorada", conta com bom humor.
Walmir foi um dos 50 estudantes do movimento que se inscreveram no fórum. “Era uma forma de um grupo garantir acesso ao evento”. Ele diz que pegou a sua credencial com tranquilidade, mas quando tentou entrar foi barrado pelos seguranças. “Estava tudo certinho. Não havia tumulto, até que os seguranças começaram a proibir a nossa entrada, mesmo com as credenciais. Diziam: ‘quem é do movimento não tem autorização para entrar’. Foi nesse momento que a tensão aumentou e começou toda aquela confusão que deu no que deu”, afirma Walmir.
“O Walmir ainda acabou entrando depois. Eu e outros colegas, todos credenciados, ficamos no meio, prensados entre o isolamento dos seguranças e o portão de entrada. Não íamos nem pra frente nem pra trás. O pessoal que estava do lado de fora percebeu a confusão e, começou a ocupar o saguão”, recorda Karen.
Os estudantes contam que quando chegaram ao Centro de Convenções conversaram com Bruno Alves de Souza Toledo, que trabalha na assessoria do desembargador,  para viabilizar a entrada da comissão, conforme fora combinado com Pedro Valls. “O Bruno, no entanto, nos disse que só poderia liberar a entrada da comissão após a chegada do desembargador ao evento, o problema é que o homem não chegava. A informação que tínhamos é de que ele estava no aeroporto com o vice-presidente”, afirma o estudante de geografia da Ufes Josimar Nunes, 19 anos.
O mineiro Josimar estava na “linha de frente” na hora em que começou o empurra-empurra. “Eles tentavam segurar os estudantes um a um. Éramos pelo menos 300. É claro que aquilo não daria certo. Era muita gente se empurrando em um espaço pequeno. Mas, da nossa parte, não houve violência. A tensão aumentou quando eles começaram a lançar gás de pimenta sobre os estudantes. Isso irritou ainda mais as pessoas”. Josimar ainda diz que o detector de metal não foi derrubado intencionalmente pelos estudantes num ato de violência, mas apenas caiu por causa do empurra-empurra. “Tanto é que nada foi quebrado. Se houvesse violência da nossa parte, haveria quebra-quebra. Outra, depois que o detector foi ao chão e a passagem ficou desimpedida poderíamos, facilmente, ter invadido o Centro de Convenções. O número de segurança não daria conta de conter todos os estudantes, caso essa fosse a nossa intenção”.
O estudante de jornalismo kauê Scarin, 19 anos, concorda com o colega da geografia. “Depois de vencer a barreira nós recuamos. Se quiséssemos invadir teríamos prosseguido. A queda do detector foi meramente acidental”.
Diante do impasse, com um grande número de manifestantes ocupando o saguão de entrada do Centro de Convenções onde estava sendo feito o credenciamento dos participantes, começaram a aparecer diversos interlocutores para negociar com os estudantes em nome do desembargador Pedro Valls e do governo. “Cada hora aparecia um engravatado diferente trazendo uma proposta. Porém, nenhuma que garantisse o que havia sido combinado com o desembargador: a entrega do documento às autoridades, principalmente ao governador. A intenção deles, naquele momento, era retirar a gente dali o mais rápido possível. Eles mesmos nos diziam que a conversa com Casagrande era inviável”, diz Anézio.
“’É verdade. Os interlocutores do governo repetiam que aquele evento não era do Casagrande e sim do TRE. Portanto, não cabia conversar com o governador naquele momento”, conta a professora Cláudia.
Em busca dos culpados
“Quando soubemos que o evento havia sido cancelado ficamos pasmos. Não consideramos o cancelamento como uma vitória do movimento. Nós queríamos que o evento fosse realizado para entregarmos a pauta de reivindicações às autoridades e dar visibilidade ao movimento. Não vou negar que o cancelamento daquele que seria um grande evento mostrou a força do movimento, mas ficaríamos realmente satisfeito se o objetivo daquela noite, que era entregar o documento a Casagrande, fosse cumprido. Não nos orgulhamos do que aconteceu”, afirmou Anézio.
José Anézio, que também é membro da diretoria do DCE da Ufes, diz que os “verdadeiros culpados”, com a ajuda de parte da mídia, estão tentando jogar na conta do movimento o cancelamento do evento, manobra que ele considera injusta. Ele tem uma teoria interessante para apontar os verdadeiros culpados pelo cancelamento do Fórum Nacional da Reforma Eleitoral.
“O Pedro Valls Feu Rosa disse que o evento foi cancelado por falta de segurança. O secretário André Garcia rebate, e diz que havia segurança suficiente para garantir a realização do evento. Acho que os dois estão certos e errados ao mesmo tempo”, polemiza Anézio.
Para o estudante de psicologia, Garcia está certo ao defender que havia condição do evento ser realizado. “Mesmo após a ocupação do saguão, as pessoas estavam entrando e se credenciando normalmente. Estava tudo calmo e não houve novos incidentes além da derrubada do detector. Estava tudo, aparentemente, correndo na normalidade”, recorda a estudante de comunicação e publicidade Camila Cuquetto, 20 anos.
Os estudantes confessam que não esperavam chegar até a porta do Centro de Convenções. “Tínhamos certeza, quase absoluta, que seríamos barrados nas extremidades da Constante Sodré [rua que dá acesso ao Centro de Convenções]”, admite Josimar.
“Os policiais só não autorizaram a entrada do carro de som, mas a gente passou batido. Foi tudo muito tranquilo. Quando percebemos já estávamos na porta de entrada. Sem acreditar muito, perguntei a um colega: é aqui o Centro de Convenções? E ele confirmou. Nem acreditei”, recorda Walmir.
José Anézio também tem a mesma avaliação dos colegas. “Sinceramente não entendi nada quando começamos avançar além dos acessos da Constante Sodré. Havíamos entendido, depois da reunião com Feu Rosa, que o Bruno receberia a comissão na barreira e nos encaminharia até o desembargador. Mas, para nossa surpresa, não havia bloqueio policial. Por isso que eu disse que os dois falharam e acertaram. Ao contrário do que o desembargador disse, o evento poderia acontecer sem problemas. De outro lado, parece ter havido uma falha na segurança, que não fez a barreira no acesso da Constante Sodré”, analisa Anézio.
Já passava das dez e meia da noite quando deixamos o DCE. Anézio disse que via com otimismo a retomada do diálogo com o governo. “Acho que agora vai. Vamos ver se o diálogo avança. Acho que o movimento está cumprindo o seu papel. Além da nossa pauta de reivindicação, queremos promover a realização de uma grande conferência estadual para debater mobilidade urbana com a população”, dizia animado quando foi interrompido por um casal que queria saber "onde é que rolava o pagode".



Matéria escrita pelo jornalista José Rabelo 


Um comentário:

  1. Não fiquei sabendo dessa pseudo-assembléia não divulgada que tava rolando no DCE, foi por isso que as pessoas que estavam la não estavam representando a maioria.

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